quinta-feira, 18 de outubro de 2007

ALUCINAÇÃO

Fantasma.
Vives a me perseguir.
A me consumir.
A vida a me sugar.
A minha terra demarcar
com ferro em brasa,
como se fosse a minha pele a ferrar.
Não tens sentimento?
Claro que não.
És um fantasma.
Uma sombra vil.
Dissimulada. Perdida.
Não a quero nos meus pensamentos a povoar.
Tu me trazes
tristeza, melancolia.
Dor.
Dor física: Saudades.
Saudadesde um tempo.
Perdido. Passado.
Não tão longínqüo.
Dói.Não me deixa.
Não me abandona.
Vive a me assombrar.

Edilmar Amaral


Publicado no Recanto das Letras em 18/10/2007
Código do texto: T699967

Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (cite o nome do autor e o link para a obra original). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

MAR
















Praia de Costazul - Rio das Ostras - RJ - Brasil
Foto cedida por Eduardo Antônio de Moura
Porto de chegada.
Porto de partida.
Porto de procura de terras des-conhecidas.
Infinito.
Lendário.
Incógnito.
Guardas segredos irreveláveis.
Mistérios inimagináveis.
Perguntas intermináveis.
Em ti, repousa estrelas.
Sonhos dos que foram.
Tristezas dos que não voltaram.
E, muitos, ficam à tua beira,
na esperança de ver uma embarcação voltar.
Voltar com o ser amado.
Nos braços de Iemanjá.
Porém, Iemanjá, é caprichosa.
Só leva aqueles a que a ela pertence.
Pertence ao mar.
Ao mar das sereias.
De Netuno.
Dos que nasceram,
para viver na imensidão do azul do mar.

Edilmar Amaral

Publicado no Recanto das Letras em 27/09/2007
Código do texto: T670957

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INFÂNCIA
















Foto de casario antigo
Conceição de Macabu - RJ - Brasil
Foto cedida por Eduardo Antônio de Moura
Primeiros passos.
Cores multicores.
Braços abertos a proteger.
A te ninar.
Menino a correr, a falar:
mamãe, papai, titia, mãezinha.
Menino. Menina.
Bolas coloridas.
Doces. Bolo. Presentes.
Vozes a embalar.
Vela. Assoprar.
O escuro a clarear.
Braços. Muitos braços.
Poucos abertos a te ninar.
Escola. Estudo. Notas.
Férias.
Vó: Mãezinha.
Chácara. Terreiro. Pomar.
Casa, cheiro de ternura.
Doce no tacho.
Casa grande fartura.
Mistérios a descobrir, a desvendar.
Histórias ouvidas, contadas.
Guardadas.
Os barulhos da noite.
A coruja a vigiar.
O intenso coaxar.
Muitas luzes a pirilampar.
Sono, muito sono. Sonhos.
A Maria Fumaça avisa que vai passar.
O dia. Sol. Luz. Brincadeira.
Um riacho a explorar: locas, peixes, anzol.
O Balanço a balançar.
Menino aflito com esse punhado de conhecer.
Quer mais. Quer mais uns mil punhados.
Quer ficar. Morar ali.
Naquele lugar. Naquele lar.
Com a Mãezinha.
O Jeep e a Bolinha.
Aquele sim era seu lugar.
Nunca o deixaram ficar.
Menino triste vai embora.
Férias!!!
Volta.
Novamente embora vai.
Mais triste.
Um dia já bem grande,
voltou e ficou naquele lugar.
Seu lugar.
Pra sempre.
No passado.
No presente.
No futuro.
No pensar.
É lá, dizem alguns,
que muitos ouvem e vêem o menino a brincar.

Edilmar Amaral

Publicado no Recanto das Letras em 12/10/2007
Código do texto: T691057

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LOUCURA

Está proibido de me tocar,
de me julgar,
de me enganar.
Impedido.
De me olhar com esses olhos falsos.
Sombrios.
Esse olhar frio.
A sua sandice assimétrica
faz o meu corpo arder.
Não quero mais a bruxaria
para não ser queimado,
pela Inquisição Secular.
Ou.
Pelo olhar incandescente
de uma pessoa despudorada,
equivocada.
Sem rumo.
Amoralizada.
Quero a redenção:
por séculos e séculos...
A omissão.
Não o perdão.
A Loucura.

Edilmar Amaral

Publicado no Recanto das Letras em 04/10/2007
Código do texto: T680516

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FRAGMENTOS

















Perdido. Confuso.
Assim, estou eu.
Como um quebra-cabeças
que necessita das peças para ser montado.
Desligado. Pulverizado.
Em vários pedaços.
Jogados ao sabor do vento.
Sudoeste:
aquele que sente frio e chora.
E nos faz doer a alma.
Dividido. Pela metade.
Com os pensamentos a mil.
Com a cabeça a zero.
Estou em reparos.
Reparos em tudo.
Quero prumar meu rumo.
Quero adocicar meu sumo.
Quero montar meu quebra-cabeças.
Para não me sentir um rascunho.
Um negativo não revelado.
Um fragmento fragmentado.

Edilmar Amaral

Publicado no Recanto das Letras em 09/10/2007
Código do texto: T686704

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PACTO

Em ti, minha metade encontrei.
Cara metade.
Pedaço.
Inteira.
De soslaio.
Minha.
E de ninguém mais.
Oblíqüa.
Sem dissimulação.
Reflexo do meu espelho.
Espelho que te reflete.
Que te mostra.
Como o Narciso ao se ver no reflexo das águas.
Águas límpidas.
Que miram tua imagem,
como se a minha fosse.
Tu me és.
Sou a ti.
Como se nada mais existisse.
Será que existe?
Tu me bastas.
Eu te basto.
Como um pacto de sangue,
entre nós.
Neste existir, nos encontramos.
Reencontramos.
Como a milênios fazemos.
Mas, agora os deuses conspiram.
Tudo é consciente:
eu sou você
e você é a catarse
que se projeta em mim.

Edilmar Amaral

Publicado no Recanto das Letras em 29/09/2007
Código do texto: T673333

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