terça-feira, 6 de novembro de 2007

CONFISSÃO















Título: Confissão
http://www.flickr.com/photos/ccasado/47872559/

Confesso:
estou cansado,
exausto.
A vida
já me pesa o corpo.
Me sinto modificado,
adulterado.
A cópia
que reluz
à minha frente,
embaçada,
sem viço,
parece não ser a minha.
Será a de outra pessoa?
O invólucro
se transformou.
Transformaram.
Me vejo,
outro.
Em tudo.
No andar,
no caminhar,
no pensar,
no dizer,
no amar.
Não dá.
Respeito.
As marcas que o tempo me deu.
São sinais de que vivi.
Vivo.
Reverencio o tempo.
Sinto a vida.
Pulse a vida.
Pulse.
Pulse.
Pulse tanto.
Pulse para não me pesar.
Para a pena continuar a caminhar.

Edilmar Amaral

Publicado no Recanto das Letras em 05/10/2007

Código do texto: T682027

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PALAVRAS AO VENTO














Título: Vento
http://www.flickr.com/photos/momentodecisivo/53789769/

Noite.
Lua.
Claro.
Luz.
Sol.
Dia.
Azul.
Verde.
Mel.
Castanho.
Preto.
Olhos
Branco.
Negro.
Todas as cores.
Natureza.
Mar.
Pássaros.
Gaivotas.
Mais pássaros.
Peixes.
Muitos peixes.
Barcos.
Muitos barcos.
À praia ancorando.
Curiosos.
Mulheres.
Crianças.
Festa..
Muita festa.
Redes.
Redes cheias.
Homens.
Homens felizes.
Pescadores.
Talhados pela sereia do mar:
Iemanjá.

Edilmar Amaral

Publicado no Recanto das Letras em 03/10/2007

Código do texto: T678459

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CALMARIA














Título: Píer da Praia do Centro, ao entardecer

Rio das Ostras - RJ - Brasil

Fotografia cedida por Eduardo Moura

Agora.
Calmaria.
Redemoinhos de ventos.
Turbilhões de pensamentos.
Tempestades. Trovões.
Passaram.
Todos a salvo?
Alguns.
Sentimentos, contatos.
Importantes?
Quiçá.
A balança não pesou.
Agora.
Torpor.
Leveza?
O corpo adormecido nu.
A alma desnuda.
Os olhos vagos.
À procura.
De quê?
O olhar,
o pensar,
no intangível.
Na busca de um porto.
Porto seguro.
Pra naufragar.

Edilmar Amaral

Publicado no Recanto das Letras em 10/10/2007

Código do texto: T688257

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AMIGO














Título: Flores Amarelas
Fotografia cedida por Eduardo Moura

Uno.
Bilateral.
Transforma-se
em “mils”.
Para entender-me melhor.
Escutar-me melhor.
Irmão.
Pai.
Mãe.
Só você a realizar esta tarefa.
Dedicado.
Delicado.
Não mais ousado.
Sutil.
Cheio de mesuras no falar.
Cheio de mesuras no dizer.
Guia.
Farol.
Guru.
Tudo isso.
E, muito,
muito mais.
Amigo.


* Dedicado Eduardo Moura

Edilmar Amaral

Publicado no Recanto das Letras em 06/10/2007
Código do texto: T682799

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ETERNO OLHAR




















Título: Mãe

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Olhos de água.
Olhos de chuva.
Olhos de mel.
Olhos de mar.
Verdes.
Lindos,
como ondas a marulhar,
como os raios,
no céu,
a cintilar.
Como as matas,
nos campos,
após as chuvas,
em busca
do esverdear.
Olhos meus.
Que me embalaram,
que me amamentaram,
me acalentaram,
me ensinaram,
me moldaram,
me tornaram o que sou.
Olhos que me olham:
com amor,
respeito,
dedicação.
Olhos infinitos:
nunca se perderão.
Continuarão dentro de mim.
Do meu sangue.
Do meu eu.
Do meu coração.
Eterno amar.
Terno olhar.
Verdes olhos:
musa,
mãe.

Edilmar Amaral

Publicado no Recanto das Letras em 28/09/2007

Código do texto: T671801

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RECADO














Título: Recado
Não possuo nervos de aço.
Muito menos sangue de barata.
Sinto.
Sofro.
Me descabelo. Me esculacho.
Me desmancho.
Desmonto.

Não dou o braço a torcer.

Não meças força comigo.
Nada tens a ganhar.
Não sou a Traição.
Tu. Só tu.
Estás colocando tudo a perder.

Santo, não sou.
Não quero.
Incomoda.
Quero pecar.
Me molestar. Me entregar.
Me ferir. Te ferir.
Andar por lugares escuros.
Por becos escusos.
Beber da bebida dos Loucos.
Beber da bebida dos Bêbedos.
Me embriagar.
Andar na corda bamba.
Tropeçar.
Cair.
Levantar.
Sublimar.

Porém ,
uma certeza eu tenho:
não te quero mais.
A apertar o meu peito.
A sangrar o meu coração.
A matar o meu desejo.
A violar a minha “despudoração”.
Edilmar Amaral

Publicado no Recanto das Letras em 18/10/2007
Código do texto: T699213

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IANSÃ




















Título: Iansã
http://agora.ya.com/umbanda21

Venta.
Venta muito.
Venta forte.
Minha Rainha
está a reinar.
E eu,
seu fiel súdito
estou atarefado
a observar,
a olhar,
a admirar,
a sentir sua força
a percorrer
outros reinos,
que ficam paralisados.
Estagnados.
Em estado
de contemplação,
com o anúncio do seu passar.

Edilmar Amaral

Publicado no Recanto das Letras em 06/11/2007
Código do texto: T725335

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DESENCANTO















Título: Tristeza

http://igorfrota.blogspirit.com/

Sai na tua busca,
ao teu encontro.
Percorri estradas.
Caminhos.
Andei por vielas.
Ruelas.
Escorreguei nos guetos.
Não te encontrei.
Encontrei teu hálito,
teu cheiro
a perfumarem
todos os cantos,
todas as gentes,
numa mistura
com suor e sexo.
Desencantei-me.
Fugi.

Edilmar Amaral

Publicado no Recanto das Letras em 06/11/2007

Código do texto: T725324

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