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Em ti não acordei.
Mas, de ti, todo o meu passado herdei.
Em ti brinquei.
Soltei pipa.
Joguei bola.
Em tuas águas me banhei.
Em teu sol me queimei.
Neste vasto verde,
me encantei,
me encanto
e me encantarei.Tu, tornaste-me árvore frondosa
enraizada no teu solo,
no teu chão.
Chão que percorro descalço,
como um menino,
em busca de uma fruta caída, madura,
em tantos pomares espalhados por ti,
em busca da Maria Fumaça
que chegava
e embora ia,
trazendo e levando notícias:
pessoas que vinham e iam,
sem ou com destino.
E, você, sem nada nos prometer:
só uma nova espera.
E, nós,
com muita fé em Nossa Senhora,
de Conceição, da Conceição,
padroeira da nossa gente.
A Maria Fumaça não mais voltou.
Que pena!
Nos esqueceu.
Mas, o meu chão, ainda percorro.
Em pensamentos.
Em fantasias.
Em ilusões.
Em desilusões.
Em devaneios.
Em recordações
vividas,
sonhadas,
perdidas,
nunca esquecidas.
Sempre lembradas.
Relembradas.
Contigo cresci.
Aprendi.
Tornei-me uma árvore,
ainda mais frondosa.
Mas, por todos os cantos em que ando
só em ti penso.
És minha terra.
Meu lugar.
Meu lar.
E, “quando a indesejada das gentes chegar”*,
É neste céu, de um azul que não há descrição.
É neste chão, que tanto pisei,
que para todo o sempre quero, novamente, pousar.
* Menção a um verso de Manuel Bandeira.
Edilmar Amaral
Publicado no Recanto das Letras em 30/09/2007
Código do texto: T674738
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