Título: Zumbi
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Sinhozinho
na Fazenda
ordena ao feitor:
nem que vosmicê
arranque o couro
dessa negrada,
tenho de embarcar
este café,
ao amanhecer.
Muitos desertaram
no caminho.
Não puderam
contar a história
dos oprimidos
daquele cafezal.
Outras vozes
não se calaram.
Se levantaram
a proclamar aos ventos
as atrocidades sofridas
pelo homem negro,
vindo da Mãe África.
Voz que não se calou.
Voz que não se cala.
Voz que não quer se calar.
Onde está o Sinhozinho?
Esta aí.
A pedir o seu voto,
em época de eleições.
Depois,
fica sentado,
ou a discutir irrelevâncias,
na Câmara,
no Senado,
no Palácio do Planalto
e a praticar o que chamam
de Democracia:
escravizar brancos, negros,
mulatos, indígenas...
com suas promessas não cumpridas,
suas dívidas não pagas,
com suas balas que nos matam
e proclamam de perdidas,
nos locais onde moramos,
na nossa casa,
onde vivem
os descendentes do passado,
tentando nos colocar no tronco,
nos açoitar.
Tentando nos ludibriar,
com estatísticas,
discursos,
com embromação.
Zumbi,
meu comandante,
meu guerreiro.
Volte
e leve todo o seu legado:
o povo brasileiro mazelado,
esculachado, deixado de lado
para Palmares.
Agora somos muitos.
Temos tecnologia.
Não deixaremos nenhum deles
próximo chegar.
Edilmar Amaral
Publicado no Recanto das Letras em 20/11/2007
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